Em um universo normal eu jamais leria “Mentiras que Contamos”, e isso por diversos motivos. O primeiro deles, nunca tinha ouvido falar do autor, em segundo, a capa não me atraiu e a sinopse também não. Nada em particular, ou como diríamos, “desculpa, Felipão, nada pessoal”. Mas só não “pegou”, pode ser porque leio tantos romances genéricos e iguais, que pensar em mudar o “modus operandi” me tira do meu “lugar comum”.
Mas então, como acabei lendo e como esse livro se tornou o meu favorito até agora? Em janeiro, entrei para um clube do livro, uma amiga me contou que entrou para um clube do livro e me convidei para participar. O principal motivo foi para sair da minha zona de conforto, ler coisas que jamais leria por livre e espontânea vontade. E foi exatamente o que aconteceu!
Mentiras que Contamos é um livro inesperado, é intenso, é delicado, bonito e polêmico. Tudo isso ao mesmo tempo. Não esperava encontrar tanto ali. Sem brincadeira, grifei praticamente o livro inteiro! Uma coisa não podemos negar, Besson é um excelente frasista! Quer um exemplo?
“Eu tenho dezessete anos. Nessa época, não tenho conhecimento de que nunca mais terei dezessete anos; não sei que a juventude não dura, que é só um momento, que ela desaparece e que, quando nos damos conta, já é tarde, acabou, sumiu, a perdemos.” – Philippe Besson
Esta é apenas uma das várias. Um livro que fala sobre amor impossível, sobre preconceito, sobre amor na juventude e sobre decepções amorosas e um mundo muito cruel. É essa a história de Philippe, que se apaixona por Thomas na adolescência, com quem passa momentos lindos e felizes. Mas Thomas não tem a mesma coragem de Philippe, Thomas — como um típico trabalhador rural da década de 1980 — não consegue assumir o romance e se esconde, esconde o que os dois vivem.
No entanto, a descrição desses encontros… é um primor, meus amigos! É delicado, é intenso de uma forma que deixa a dúvida: essa história é real? Cheguei a pesquisar e, ao que tudo indica, pode ser. Há diversos pontos de conexão entre a vida do autor e do personagem e posso crer que tudo aquilo relatado foi bastante real.
O legal de ler um livro que nos tira do conforto é conseguir encontrar soluções para problemas. Por exemplo, estava há dois anos tentando resolver um entrave em um livro escrito há 4 anos! Não conseguia resolver o problema da passagem de tempo sem ser prolixa, sem ser melosa ou repetitiva. Besson me deu a ideia. Simples e direta. Frases soltas, que resumiam encontros de Philippe e Thomas, mas que demarcavam a passagem temporal. Descaradamente copiei a ideia, não as palavras, e consegui finalizar e resolver o problema.
Talvez por isso ou por tudo isso e talvez mais, “Mentiras que contamos” é (até agora) meu livro favorito de 2025.