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Não existem tradutores como antes

Confesso que sempre tive um pouco de resistência com qualquer tipo de literatura muito nova. Ou então com aquela literatura de capa muito colorida, com imagens abstratas, menções de críticos, número de vendas e sempre de um autor que eu nunca tinha ouvido falar. Aliás, sempre fiquei com os dois pés atrás com qualquer autor que estivesse na lista dos mais vendidos, ou na vitrine de uma livraria, ou na estante principal de qualquer biblioteca.

Entretanto, por indicação da querida amiga Neia, decidi começar a ler a série Millennium, do autor sueco Stieg Larsson. E confesso também que não fui facilmente convencida. Eu gosto de quando alguém me conta a história antes e daí eu posso decidir se vou ou não ler. Até porque nosso tempo é tão curtinho, que eu nem posso me dar ao luxo de ler um livro do qual não sei se vou gostar.

Pois bem, o que eu queria dizer é o seguinte. Esses livros são legais? São. Li aquele calhamaço de 600 páginas do Larsson em apenas cinco dias. A história é envolvente, o enredo é emocionante e os personagens são fantásticos. Os livros são bem escritos? Não. Definitivamente, por Deus, NÃO. Eu fico pensando quem, em sã consciência consegue escrever em uma mesma página três vezes a expressão meneou a cabeça e “franziu o cenho”. E se fosse aleatório, só ali, restrito a um personagem, eu até poderia dizer que era um cacoete, uma expressão. Mas não. Página sim, página não, a expressão está ali.

No livro do Larsson, no livro da Stephanie Meyer e posso citar mais uma dezena deles que, se não tiver essas expressões, da mesma forma trazem palavras repetitivas, figuras de linguagem pobres, rimas inexistentes etc etc etc. E isso é um problema do autor? Eu realmente acredito que não. Como Larsson, um jornalista renomado e premiado, escreveria tão mal? Infelizmente não leio sueco para poder comprovar isso, mas do que tenho bastante certeza é de que não existem mais tradutores como antigamente.

Em uma entrevista, o Millôr Fernandes (em 1989, no Roda Viva) comentou sobre o ofício da tradução. Ele relatou o quanto um bom tradutor também precisa ser um bom escritor, para conseguir reproduzir as rimas, as aliterações e não empobrecer a obra. Ele citou como exemplo a tradução que fez de Shakespeare e descreveu a dificuldade. O que me parece é que nos dias de hoje não há preocupação com a obra como um todo. Se alguém sabe a língua, entende o básico, vira tradutor, executa em minutos e entrega pronto. Com o chatGPT daqui a pouco nem teremos mais tradutores!

Mas não é bem assim, traduzir é reescrever completamente, é começar do zero, é entender o autor e conseguir passar tudo isso para outra língua sem perder o que de mais primoroso ele construiu. Já se foi o tempo em que grandes autores eram selecionados para realizar as traduções de livros de literatura. Infelizmente o tempo é outro e, infinita- mente, pior!

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